Luciana Rafagnin: Bolsonaro retrocede a um estado de desesperanças

A deputada estadual Luciana Rafagnin (PT-PR), em artigo especial, afirma que o fim de taxas para o leite importado vai significar quebradeira, inadimplência, desempregos e êxodo rural.

Rafagnin tem sua base política na bacia leiteira do Paraná, a região Sudoeste, e alerta que o retrocesso levará o país para um estado de desesperanças, país que tínhamos antes de Lula presidir o Brasil.

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Por Luciana Rafagnin*

Enquanto se espalhavam nas redes sociais notícias falsas e promessas enganosas de que o governo de Bolsonaro iria acabar com a importação de leite, o que aconteceu foi bem o contrário. Ele anunciou a derrubada das barreiras de importação do leite em pó da União Europeia e da Nova Zelândia.

Economia

O leite em pó é balizador de preços. Anular, zerar as sobretaxas de importação, que funcionam como proteção aos nossos produtos, faz com que o leite desses países, que é subsidiado pelos seus governos, entre no Brasil em concorrência desleal com o leite daqui, que é fruto do trabalho de milhares de famílias de agricultores e isso acaba afetando gradativamente toda uma cadeia produtiva que nos governos do PT, desde Lula em 2003, vinha sendo fortalecida e apoiada como estratégica ao desenvolvimento sustentável e à nossa segurança alimentar e nutricional.

A notícia é de uma infelicidade tremenda, pois representa um sofrimento muito grande para nossa agricultura familiar, para os produtores brasileiros, os laticínios, as agroindústrias de transformação e a produção de alimentos.

No Governo Lula, o país chegou a denunciar esses países que praticavam uma concorrência desleal junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). Foram erguidas essas barreiras, em que se estabeleceu um preço mínimo de entrada do leite deles no país.

Essa medida foi fundamental para recuperar a nossa cadeia produtiva do leite, combinada com as políticas estruturantes, como o programa Luz Para Todos (que garantiu refrigeração), a recuperação de estradas, o programa de maquinário agrícola para os pequenos municípios, o Pronaf, o Mais Alimentos e todo um conjunto de incentivos e de apoios para custeio e investimento na produção do leite da agricultura familiar.

O Sudoeste é um exemplo desses avanços. Foi um dos fatores que possibilitou alcançarmos o patamar de principal bacia leiteira do estado em volume de produção. Vimos essa realidade mudar diante dos nossos olhos, não dá para esquecer!

O leite é uma importante fonte de renda mensal na agricultura familiar. A gente convencionou chamar de “cheque leite”. Enquanto a safra de outras culturas leva meses para dar retorno às famílias, o ganho com o leite é renda mensal, ou seja, entra na conta dos agricultores todos os meses. Daí, se movimenta toda uma economia, da local à geração de renda na cadeia produtiva pelo país.

Essa notícia que vem agora do governo Bolsonaro cai como uma bomba no colo da nossa gente.

É o segundo absurdo cometido por esse governo despreparado que tem impacto direto na agricultura familiar do Sudoeste, depois que o anúncio da mudança da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém revoltou a comunidade árabe e fez com que a Arábia Saudita suspendesse a importação de frangos de 33 frigoríficos brasileiros.

A Arábia Saudita que era até então nossa maior cliente; comprou 486,4 mil toneladas só no ano passado.

Essas medidas desastradas devem resultar em muita quebradeira, em inadimplência, desempregos e em êxodo rural. Retrocedemos para um estado de desesperanças, país que tínhamos antes de Lula presidir o Brasil.

*Luciana Rafagnin  é cientista política e deputada estadual pelo Partido dos Trabalhadores do Paraná (PT-PR).